sábado, 4 de setembro de 2010

MAS UMA VEZ A JUSTIÇA FOI FEITA, CASO SERRAMBI OS REUS FORAM INOCENTADOS

Os irmãos Marcelo e Walfrido Lira foram absolvidos, nas primeiras horas da madrugada deste sábado, da tentativa de estupro e duplo homicídio das adolescentes Tarcila Gusmão e Maria Eduarda Dourada. A sentença dos sete jurados colocou um fim aos cinco dias de julgamento daquele que ficou conhecido como o Caso Serrambi. Os réus saíram livres do Fórum de Ipojuca, a 50 Km do Recife, Pernambuco.

O crime contra jovens de classe média alta vem sendo acompanhado de perto desde que as jovens foram consideradas desaparecidas, em maio de 2003, na época com 16 anos. A história começou em um fim de semana na Praia de Serrambi, litoral Sul de Pernambuco. Tarcila e Maria Eduarda saíram para um passeio de lancha, até o Pontal de Maracaípe, e acabaram por se separar do grupo. Não foram mais vistas e, por conseguinte, são consideradas desaparecidas. Depois de dez dias, o pai de Tarsila encontrou os dois corpos abandonados em um canavial no distrito de Camela.

As investigações retomaram os últimos momentos das adolescentes, que ficaram sem ter como retornar à casa de praia depois de perderem a lancha. Elas foram vistas pela última vez pela testemunha Regivânia Maria da Silva. De acordo com seu depoimento, as meninas entraram em uma Kombi, com Marcelo e Walfrido Lira. O trabalho do advogado Jorge Wellington, que defendeu os réus, foi dar ênfase à fragilidade da testemunha e das demais provas apresentadas desde a segunda-feira, dia 30.

Serviu também como argumento de Defesa o trabalho do primeiro promotor do caso, Miguel Sales, que devolveu por três vezes o inquérito à polícia cobrando novas investigações. A seu pedido, a Polícia Federal reiniciou o inquérito e realizou uma nova investigação. Também chegou a mesma conclusão: o indiciamento dos irmãos Lira.

Miguel Sales foi afastado do caso pelo Ministério Público. Seu depoimento chegou a ser considerado pela defesa, mas não foi permitido pela juíza Andréa Calado. A decisão foi comemorada por um pequeno grupo, com pouco menos de 200 pessoas, que ficou até o início da madrugada do sábado esperando a sentença na frente do fórum.


O espetáculo além do júri

Foi uma semana, mais de 60 horas para defesa, acusação e uma plateia seleta participarem do júri mais esperado da última década
Ana Paula Neiva, Marcionila Teixeira, Tatiana Sotero e Wagner Oliveira
urbana.pe@dabr.com.br
As mãos balançam veementemente, as vozes ganham força e as faces, expressões repletas de sentido. O julgamento dos irmãos kombeiros Marcelo e Valfrido Lira acusados pelo assassinato das adolescentes Maria Eduarda e Tarsila Gusmão, em maio de 2003, e inocentados pelo júri popular por quatro votos a três, durou uma semana. Foram mais de 60 horas. Um espetáculo à parte para um público seleto, formado por gente da população, advogados, estudantes de direito, além da imprensa. Nos bastidores, trocas de farpas e gentilezas, palavras fortes e muitas vezes hilárias. O show de ironia teve como protagonistas o advogado de defesa, Jorge Wellington, 41 anos, e o promotor Ricardo Lapenda, 53.
Nos bastidores, o promotor Ricardo Lapenda e o defensor dos kombeiros, o advogado Jorge Wellington, trocavam gentilezas. Diante dos jurados, a batalha era intensa, cada um usava suas armas. Fotos: Teresa Maia/DP/D.A.Press e Julio Jacobina/DP/D.A.Press
Em meio ao julgamento mais polêmico da década, acusação e defesa pegavam suas "armas" e apontavam um para o outro. Não foram poucos os momentos em que a juíza Andrea Calado precisou suspender a sessão devido ao desentendimento entre as partes. Para quem estava na plateia, parecia até ser uma briga de inimigos mortais. No entanto, ao final de cada dia do julgamento, os guerreiros que haviam acabado de se gladiar na frente de sete jurados e dois réus, trocavam cumprimentos.
Uma guerra às avessas, onde as piadas também tinham vez. Certo dia, o advogado de defesa Jorge Wellington Lima disparou: "Nem tudo que parece é. Eu pareço com o cantor Roberto Leal, com o Ferrugem, mas não sou", disse, justificando que os indícios do crime não significavam que a autoria seria de Marcelo e Valfrido. Foi a deixa que o promotor Ricardo Lapenda, aparentemente mais sisudo, precisava para brincar com o "rival". No plenário, acabou usando o apelido: "Calma Roberto Leal, calma". A plateia foi às gargalhadas.
Essa não foi a única vez que Lapenda e Jorge Wellington viraram o alvo principal das conversas nos bastidores. Diante de uma gentileza do advogado no plenário, o promotor quebrou o gelo e, em troca, brincou, oferecendo um bombom, que foi rejeitado por He-Man, como também ficou conhecido Wellington, por conta da semelhança com o super-herói.
Em um dos momentos mais tensos do julgamento, em pleno interrogatório da perita do Instituto de Criminalística Vanja Coelho, nem mesmo a juíza Andrea Calado se conteve: "Isso é uma perícia ou uma pegadinha", referindo-se à quantidade de vezes em que a testemunha Regivânia Maria da Silva foi submetida à reprodução simulada no mesmo dia e coordenada por Vanja.
"Hoje é dia da onça beber água", disparou o irreverente advogado Jorge Wellington ao avisar que a defesa dos kombeiros se preparava para mais um dia de estratégias. E não foi só essa frase que virou o centro de comentários engraçados entre os jornalistas. "Quem viver verá" foi mais uma pérola lançada pelo advogado, formado na Faculdade de Direito de Caruaru, e com experiência de 18 anos na área criminal, além de 100 júris. Devido ao Caso Serrambi, Wellington acabou ganhando o carinho do povo de Ipojuca. Todas as vezes em que deixava o fórum, era parado por populares que o cumprimentavam e pousavam para fotos ao seu lado. Tanta fama não é novidade para ele que já foi vereador por duas vezes, em Lajedo, sua terra natal, onde exerceu a presidência da Câmara.
Lapenda, de humor mais refinado, formado pela Faculdade de Direito do Recife, promotor desde 1990 e que já atuou em mais de dois mil júris, aproveitava os intervalos das sessões para brincar com o seu rival, a quem se referia como o super-herói. "E aí seu Jorge Wellington, já tomou seu Rupinol hoje?", não perdia a chance de "mexer" com o aspecto agitado do seu colega de profissão. Realmente, um espetáculo para poucos dentro de tanta tensão.

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